segunda-feira, 10 de maio de 2010

MINHA CIDADE


Minha cidade sangrou em lágrimas e lama
Desabando vidas, sonhos, esperanças
Escombros de famílias, amigos ou vizinhos
Entulhados ficaram numa montanha de nada
Vazio
Rostos que sumiram estampam faces
Que por tanta dor perdem a expressão de dor
Só exprimem um nada
Um nada ser
Um ninguém ultrajado
Um qualquer insultado
Um menos que nada
Que chora um quase choro
Choro de pai, choro de mãe,
Choro de filhos, amigos, vizinhos
Chorume molha da terra aos prantos
A todos os presentes telespectadores
Putrefando o ar e transformando
Gente em excremento
Garras de metal sulcam o desespero
Na busca pelo milagre, pois já é impossível
Uma procura desleal desafia humanos obstinados
Incansáveis exemplares de abnegação
Que nos cuidam e nos comovem
Ainda sou humano
Sofro por perdas
Humilhações me indignam
Miséria me afronta
Políticos me violentam
Caridade me acalenta
Sorriso é tudo que preciso
Para preencher a memória
Lembrando que viemos a esse mundo
Para sermos felizes e nos amarmos
Não para odiar, não para morrer de fome