quinta-feira, 23 de julho de 2009

PURO DESEJO


Tenho andado loucamente
Sem tirar você da mente
Teu cheiro me persegue
Um vulto que me segue
Parece uma visão
Obra-prima interativa
Na qual me coloquei
Assim que te encontrei
Percebi você de longe
Muito antes de chegar
Sua presença
Já estava no ar
Perverteu em euforia
Minha imaginação
Me envolvendo por inteiro
Eriçando os meus pêlos
Sedução a flutuar
Incontrolável tal o mar
Ainda quer me perguntar
O que eu sinto quando sinto o teu cheiro?
É puro desejo
É puro desejo
Tá na cara, dou a tapa
Não duvida que eu te ensino
Travessuras de menino
Levemente pervertido
Em sua vida a penetrar
Sob a noite ao luar
De manhã ao acordar
Com você eu quero muito
Quero em qualquer lugar
Venha ser minha namorada
A algema está guardada
A cama é reforçada
Certamente ajustada
Pra carinho e pra porrada
Para mim junto a você

quinta-feira, 16 de julho de 2009

TEMPO


O tempo dedicou tanto tempo de seu tempo
Para me dar tempo de perceber a tempo
Que o tempo todo tempo chove tempo faz sol
Tempo passa tempo atrasa
Tempo cobra tempo dá
De tempos em tempos
Temporais temporizam
Usando o tempo de seu tempo
Atrasando o tempo dos outros
Molhando durante um tempo
A aridez da terra seca há tempo
Germinando sementes
Que crescerão com o tempo
Pelo tempo que lhe for permitido
Ou durante o tempo que tiver
Até o dia em que o tempo
Que teve nas mãos há tempo
Quando viu sumira no tempo
O pouco que sobrou de seu tempo
Gastou pensando no tempo que teve
Até o dia em que tempo
Que há tempo não aparecia
Decidiu encerrar seu último tempo que tinha

quarta-feira, 15 de julho de 2009

NAVIO

A vida parece um navio
Pessoas embarcam
Outras olham
Algumas trabalham
Muitas se despedem

Durante a viagem
Pessoas descansam
Outras se divertem
Algumas trabalham
Ao final da noite se despedem

No atraque da viagem
Pessoas se encontram
Muitas se perdem
Algumas olham
Outras trabalham
A maioria se despede

Direitos e Deveres do Poeta

O poeta na vida tem dois direitos:
De admirar;
De se indignar.
E apenas um único dever:
De jamais, jamais, se calar

segunda-feira, 13 de julho de 2009

PROCURA


Já nem sei mais quem eu sou
Meu rosto não é o do espelho
E nem é meu esse banheiro
Meus amigos já se foram
Até o sono, não mais o vejo
Deixou de ser meu companheiro
Por brincadeira me deixei levar
Achando que paixão
Bate no coração
Até silenciar
Dessa vez não fui reclamar
Desafiando a lei humana
Em que sempre certo
Cada qual deve estar
Dessa vez gostei de errar
Errado que estava
Não construí muros,
Cercas ou muralha
Não alertei a tropa
Relaxei da guarda
Surgiste assim, direto a mim
Nocaute de alegria, furor, insegurança
Medo em adulto, sorriso pra criança
Veio, assim, a mim, enfim.
E como vieste,
Foste.
Apagou o dia
Entristeceu a noite
Secou meu rio
Apagou meu caminho
Abalou o homem
Aprisionou o menino
Agora, e parece sempre
Estou à busca novamente
De algo que me faça pirar
Como a força do amor
Que faz o coração pulsar
Da promessa do amor
De nos fazer elevar
Da esperança do amor
No brilho de um olhar

FALSAS PROMESSAS


Cruzei com a porra do teu olhar
Justo quem eu não devia encontrar
Vivia cheio de brilho
Cercado de dinheiro e amigos
Sempre agitando a balada
Namorando a mulherada
Tocando forte e seguro
O pé na estrada do meu destino
Aí eu vi você
Sem saber o que podia acontecer
Um tolo meio inconseqüente
Apaixonado por seu doce sorriso
Achando que estava arrasando
Pus as trevas no meu caminho
Ouvi suas falsas promessas
Acreditei nas tuas juras perdidas
Pensava que durava pra sempre
E o prazo da validade vencido
Comecei a me perder pra te ver
Iluminado pelo sonho do paraíso
Sugava toda minha energia
Me tornava um doente e sozinho
Farrapo sujo e humano
De corpo e carteira vazio
Fui arrasado por inteiro
Ao seu lado negro sombrio
Certa noite a loucura me bateu
Cheguei ao meu ponto morto
Esse amor me deixou derrubado
De cara bom a eterno culpado
Não aprendi a lidar com você
Agora necessito me afastar
Devo me negar o direito
De afundar vivendo no teu prazer
Considere esse adeus para sempre
Quero viver minha vida em paz
Sei que vai destruir muita gente
Menos esse sobrevivente
Que tem a certeza
De não ser páreo para a sua tristeza

quinta-feira, 9 de julho de 2009

VOLÚPIA

Aos olhos teus me percebi perdido
Animal descrente, distraído, já abatido
Sou presa da sua fera, da sua volúpia
Pensei ser na estória o caçador, insaciável
Nesse momento feliz constato: estou sendo devorado
Estou sendo servido, estou sendo cuidado
Querido e desejado, algoz e escravo
Vou nutrir seu sorriso suado
Distribuindo por ti muitos beijos
Beijos solares para fina flor que gira, que brilha
Flor que pulsa ardente quente calor fervente
Fosse terra seria vulcão, prazer aquecido em jatos
Longos, extensos, demorados, exalando o magma
Das entranhas das trêmulas pernas que te habitam
Fosse égua seria potranca, malhada, selvagem
Filha de índios com os pássaros, do vento com a relva
Crinas cintilantes, trotes sensuais, galopes de puro tesão
Fosse mulher amazona seria, guerreira dia a dia
Forte, batalhadora, decidida, lutadora
Grande, resistente, encantadora e bela, e muito bela
Fossse estrela, a Ursa-Maior, ou de Vênus
A via Láctea vista do interior do sertão
Onde somente tua luz me alumiaria
Fosse onda do Hawai, perfeita, um sonho
Um maremoto afogando a sede instalada
Tsunami invadindo casa, vida, coração
Fosse furacão seu nome saberia: Katrina
Quente e úmida enquanto tempestade será
Tira tudo do lugar, nem consciência sei onde está
No entanto é somente e simples flor
Suave em pétala, no perfume e nas cores
Agrada os olhos, enfeita a vida
A coisa mais linda, dona dos meus amores

quarta-feira, 1 de julho de 2009

CONTINUATUM


Hoje reencontrei o meu erro
Estava exatamente igual
Ao que era antes
É, só mesmo eu envelheci

ASAS DE ANJO


O importante nessa vida parecia ser o tal
Obrigação de brilhar, sucesso profissional
O coração assim endurece mais que o metal
Porém tudo tem preço e eu já paguei demais
A conta extrapolou, explodiu o orçamento
O corte foi profundo sangrando fé, razão
Sufocado pela pressão acabou faltando ar
Ardeu, gelou meu peito, tirou meus pés do chão

Abri minhas asas e voei
Ganhei minha liberdade
A paz que eu encontrei
Não era o que me faltava

Meu bando veio me buscar joguei-me ao vento
O céu quis ganhar para nunca mais voltar
Vôo vivo, vivo ao voar de falcão a peregrino
Mesmo longe na distância estarei sempre a olhar
Aqueles, que loucura acabei de deixar
Em saudade penitente
Sem poder me desculpar
Sinto pela dor ainda mais pela ausência
A distância demonstrou da importância do perdoar

PÉROLA NEGRA

/ Estamos nos acostumando a ver
Corpos se vendendo pela noite
Aliciados por sua malícia
* Insensível mercadora de escravos
/ Fazendo filas de almas perdidas
Carregadas de desespero
Forjado no teu inferno
/ Horda esta subtraída de visão
Envenenada em sua escuridão
Perdida entre seus labirintos
/ Restos de gente abatida
Apodrecidos quase sem vida
Sem nenhuma estima ou valor
/ Flagelando a própria carne
Destruindo o pouco que restou
De seu já falecido orgulho
/ Sem ter pernas para correr
Ficam inúteis a se debater
Presas fáceis da insaciável
* Voraz mercadora de escravos
/ Precisando de uma mão amiga
Uma luz que lhes sirva de guia
/ Farol no meio da tempestade
Ar no pulmão pra gritar liberdade
/ Anjos que foram seduzidos
Numa teia feita de ilusão
/ A noite inteira sendo sugados
Esvaziados de humanidade
/ Desabando pela madrugada
Sofrendo só em desatino
/ Virando cinza ao contato do sol
Pó sujo dentro do cinzeiro
* Da assassina mercadora de escravos