segunda-feira, 15 de novembro de 2010

MASTIGA


Teu corpo seduz-me noites inteiras
Em sonhos, em apelos, em tato
A cama se torna boca
Que mastiga, fustiga, fastia
Engole e cospe,
Mastiga, mastiga, mastiga
Rumina
E não sacia

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

COMO NASCE O AMOR?


O amor nasce em brisa
É sopro de vida
Chega doce, suave
E arrepia
Inebria
É quente quando frio
Refresca quando arde
Atingindo o peito
Que, aceso
Estremece
Atingindo a visão
Que, de tantas cores e brilho vistas
Cega
Atingindo os sentidos
Que aos zunidos
Se tornam unidos
Vibrando veias e músculos
Percorrendo braços
Até mãos que tremulam
E suam
Enraizando pelo corpo
Segue o maravilhoso
Processo de tomada pelo sentimento
Indo ao estômago
Faminto, nervoso, ansioso
Derretido
Descendo às pernas
O amor já é grande
E pesa
Enfraquece
Dobra os joelhos
Desestabiliza a pisada
Desvio o prumo
E nos coloca no rumo
Nos põe em seu caminho
E faz em nós ninho

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

SANHA

Ao paladar de tua saliva
Seiva a vida
Onde sanha nossa chama
Elevando ao luar
Pensamentos flamejantes
Dois corpos ao mar
Tragados pela turbulência
Embebidos pelas ondas
Engolidos pelo fogo
Depurador dos pecados
Arrestados eu e tu
No furor que não cala
Ensandece o espírito
Fomentando novos pecados
Laboriosos
Lascivos
Lancinantes

segunda-feira, 26 de julho de 2010

MAGIA


E se desfez a luz. Aquele corredor lúgubre após a saída do prédio em estilo de carceragem contrastou com o ocorrido encontro de mentes ávidas por luz em suas vidas. Um silêncio instalou-se avassaladoramente, mesmo tendo no final daquele túnel luzes, automóveis e transeuntes.
Engraçado, a escuridão possui o silêncio. Nossos instintos migram do sonoro gritante para sons quase inaudíveis, sorrateiros.
Caminhando rumo à saída percebo paredes de pedra e garrafas, passo por uma árvore e alcanço o final daquela instituição, coincidentemente ou não de grades. Um novo contraste em minha rota de fuga. Após transpor o portão um grupo de buzinas, luzes, gente e conversas me tomam de assalto, mostrando-me ter voltado à civilização. Caminho até o ponto de ônibus, moro longe e a hora já está avançada. Três metálicas mulheres de Marte conjecturam grosso sobre seus destinos embaixo da cobertura protetora com lateral em ferro todo vazada, parecendo um "queijo" de balas perdidas. Acorda, aqui é o Rio de Janeiro, fica ligado. Dois outros futuros passageiros mais à frente observam, quase desolados, a rua vazia de veículos.
Olho para o portão de saída, outros fugitivos escoem para táxis e caronas. Zona sul não tem mais hábitos de coletivos, é tudo particular. Sou do outro lado da poça d’água, minha carteira de motorista venceu faz mais de trinta dias e ando muito cansado à noite, viva o ônibus.
Quando menos espero surge um “oi” e a famosa pergunta puxa-conversa: “Gostou da aula?”. Olhando um pouco para baixo vejo um sorriso simpático, sardas e grandes olhos femininos. Respondo com meu sorriso e um “oi” que sim, foi muito instigante e promissora. Para não perder minha condução desviando a atenção para a conversa pergunto-lhe se também morava em Niterói, perder um ônibus pode implicar em mais meia hora de espera.
Ela me responde que não, mora em Laranjeiras e está esperando o 584. Porém o dito demora mais que uma eternidade para passar e sua noite de penitência estava iniciando. Neste momento me veio à memória uma estória de um primo. Sempre que surgia uma dificuldade ele dizia que devíamos acreditar na magia que tudo se resolveria.
Ela sorriu meio desconfiada e voltou seus olhos para a solitária rua deserta ao fundo. Sorri e olhei para frente. Um coletivo marrom e azul ali tomou posse de toda a área destinada à parada rápida. Através de vidros esverdeados percebo como num caleidoscópio a imagem de outro coletivo se formando, passando pela rua fora do ponto. Procurei sua numeração por curiosidade, vai que a magia acontece.
-“É o 584!” falei alto para chamar a atenção da minha companheira de aula e espera.
-“É o 584!”.
Ela veio em ansiosos passos sem acreditar, nunca ele tinha sido tão rápido. Falei que ele estava parando logo à frente, acho que eu mesmo parei-o com a força do pensamento. Abriu a porta da frente com se a esperasse. Nesse instante ela disparou em desabalada carreira até a parte posterior de seu desejado destino, bateu com a mão espalmada gritando “pára, pára” pois a pequena espera do motorista era impaciente, queria andar logo dali. Uma mulher que se transformou em menina saltitou até a porta principal do coletivo, subiu e tomou o rumo de casa, impregnada pela força da magia espero eu.
Sorri novamente, talvez tenha feito a minha boa ação do dia ou não, só sei que em cinco minutos foi minha vez de tomar meu caminho de casa, meu ônibus chegou, fui!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

EXTINÇÃO


Há muito li e me espantei: baleia azul entrara em extinção
Como assim?, me perguntei
Essa palavra é sobre dinossauros, será que eu me enganei?
Não, essa palavra sim vislumbrava no rol da minha era.
Significando que este ser deixaria de ser vivo, sem presença
Somente a lembrança contada, pintada, fotografada
Já era, pensei.
E tempo passou, passou e retornou
Um novo nome, uma antiga tradução:
Onça pintada entrara em extinção
Significando que este ser deixaria de ser legítimo
Somente lenda contada, pintada, dançada
Já era, pensei.
Palavras voaram, títulos jornalísticos amarelaram
Até despencar à minha frente tal qual um corpo
Mata Atlântica entrara em extinção, Floresta Amazônica
Mognos, jacarandás, cedros e andirobas
Barreira de corais Australiana, tigre de bengala
Elefantes e guepardos, borboletas, “barrigudinho”
Urso panda, urso polar, tartaruga marinha, meu ar...
Ficaremos sozinhos neste mundo?, me perguntei.
Nos restaremos a nós, atados aos mesmos?
Sobreviveremos apenas com amizade?
Fui procurar respostas, e a encontrei:
Relações sociais tinham entrado em extinção
Significando que esta deixaria de ser feita
De ser para ser, seria holográfica, seria HD
Seria parecer
Assombrado, desesperei
E agora João? O que fazer, para onde correr?
Pensei, pensei e pensei. Lembrei.
Que o amor é o bem maior da humanidade
Salva, ri, acalenta e sustenta esta sociedade
Carente de caridade, esquecida da irmandade
Cadê amor, vou procurar, onde está?
Revista, jornal, páginas de fofoca ou policial
Apenas leio maldade, só brutalidade
Filho tá matando pai, mulher que tocaia marido
Namorado espanca a quem dizia amada
Vítima sem reação ser executada
Criança violentada na inocência
Por bichos despidos de decência
Para meu espanto constatei
O amor havia entrado em extinção.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

TODA VEZ


Toda vez que estou com você
Toda vez que eu toco você
Baby, suspiro
Toda vez que eu beijo você
Toda vez que eu amo você
Baby, transpiro

Agora quero apenas te abraçar
E girar o nosso mundo no salão
Frente a frente ao destino
Tenho a certeza, sim
Você é o meu caminho
Você é meu paraíso
As flores que perfumam
E enfeitam meu olhar
O canto dos pássaros
O sol que vai raiar

O sol nasce todo dia após você
A lua brilha para mim e pra você
Jamais deixe esse amor acabar
Jamais me deixe ficar sem você
Demorei muito pra te encontrar
A vida é sem sentido sem você
O que preciso for farei
Pra ter você aqui

SHIRLEY


Andava pela estrada em que a noite era eterna
Cruzando vozes sem rosto e sem expressão
Só me tocava o que era frio e sem sentido
Que por vezes doía, nem sei se sangrava
Cabeça baixa, faltando respeito, moral
Um pouco, um pobre, fui boçal
Só, jogado, uma droga de uma sobra
Até a brisa que me chegou
Morna, lisa, encaracolada e querida
Foi-me apresentada oi sorrindo
Iluminando meu labirinto
Aquecendo minha visão
Das trevas se fez cores
E de teus lábios desejo
Aos olhos fui menino
E na pele toques de carinho
O mundo rodou, girou, pirou
E desde então não mais parou
O corpo pulsando por querer
Sonhando só em ser em língua
Em saliva parte de nós dois
Agora a cada dia sinto mais alegria
A cada dia gosto mais de você
A cada beijo te amo, te amo, te amo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

MÁTRIA


Mátria casa sofreu, sentiu o golpe, a dor
De tanto abuso, arrogância e desamor
Diárias mentes te esgotam de eternas impiedades
Usufruindo do desrespeito insaciável de poder
Sobre um bem que não se tem, não se possui.
Sou ser parte dele e divido suas penas e lágrimas
Combalido e divino planeta
Maltratado, espoliado e danificado na alma
De seu sereno leito sangrou, negro, espesso, mortal
O câncer provido de fóssil presença animal
Disseminando a morte que intempéries haviam selado
Sob terras, sob pedras, sob mares.
Agora só o desalento esforço final de um inocente
Ser de gosma quase sem vida que, quem diria, outrora voava
Na direção que o sol lhe apontara e agora só agonia.
Se debate ali
À margem do nosso alcance
Na borda do nosso futuro
Na costa, por toda a costa
Nosso fruto pão molhado, salgado, contaminado
Bóia morto, sofre vivo, afogado em curtume de asfalto
Um alcatrão de tristezas criado por acidentais descasos
Asfixiando nossas palavras nos deixando sem ar
Ar marinho, sopro de vida, fonte viva
Nosso último suspiro...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

MINHA CIDADE


Minha cidade sangrou em lágrimas e lama
Desabando vidas, sonhos, esperanças
Escombros de famílias, amigos ou vizinhos
Entulhados ficaram numa montanha de nada
Vazio
Rostos que sumiram estampam faces
Que por tanta dor perdem a expressão de dor
Só exprimem um nada
Um nada ser
Um ninguém ultrajado
Um qualquer insultado
Um menos que nada
Que chora um quase choro
Choro de pai, choro de mãe,
Choro de filhos, amigos, vizinhos
Chorume molha da terra aos prantos
A todos os presentes telespectadores
Putrefando o ar e transformando
Gente em excremento
Garras de metal sulcam o desespero
Na busca pelo milagre, pois já é impossível
Uma procura desleal desafia humanos obstinados
Incansáveis exemplares de abnegação
Que nos cuidam e nos comovem
Ainda sou humano
Sofro por perdas
Humilhações me indignam
Miséria me afronta
Políticos me violentam
Caridade me acalenta
Sorriso é tudo que preciso
Para preencher a memória
Lembrando que viemos a esse mundo
Para sermos felizes e nos amarmos
Não para odiar, não para morrer de fome

quinta-feira, 22 de abril de 2010

ENCERRAMENTO


Olhe quem chegou, sabe quem? O tempo
Avisando o seu encerramento
Cobrando projetos não realizados
E viagens não vividas
Abraços não dados
Sorrisos não divididos
Beijos não amados
O bem da vida
Flui externando incessante terminal
Quem não se preparou se desesperou
Roncando rancores e ressentimentos
Que neste dado momento
Consome-lhe ainda mais
A mim paz
Já espalhei minhas cinzas há tempo
As lágrimas semeei e com elas reguei
E retornei o amor à terra
Plantadas raízes, meus pés, meu chão
Irmandade animal, fui reconhecido
Por iguais e outros seres
Sendo parte de todos, de tudo, de um
Imensidão azul planei
Em ondas e correntes
Aos olhos e pensamentos
Tempestuosos ou serenos
Como me ensinaste a ser
Lua te amei e amarei e a ti irei
Mais uma vez namorar você
E o sol, ah sol
Que por tantas minha alma
Preenchida de luz
Fez brilhar à mente, ao corpo
Meu desejo, minha liberdade
De ter chegado até aqui
E poder dizer:
- Oi tempo, chegou bem a tempo. Podemos ir?

terça-feira, 13 de abril de 2010

POESIA


Hoje tive tudo que quis
Semente da infância amadureceu enfim
Ergueu-se caule, tronco, galhos
Folhas e estórias
Frases de estações
Voando ao vento junto ao tempo
Encarregado das transformações
Que levam tempo, eterno tempo
Tão longínquo, tão próximo
Ó, distante um minuto
Torci por inteiro os destinos
Realizações e ambições
Escoei
Ecoando e vazando
Saindo de mim meu eu
Gerou onda e correu vida
Precipitações comunicativas
Descrições visuais cinematográficas
Úmidas em emoção e realidade
Também de sonho
Desaguaram em palavras e sons
Rimas e ritmos, outros universos
Paralelos ou perpendiculares
Isósceles ou escalenos
Pedra ou criança, casamento ou pajelança
Uma estrela ou na mesa de cabeceira
Um espelho, um lago, oceano
Transatlântico, sideral
Este precioso momento
Que sou tudo que posso
E posso tudo que sou
Na idéia sonhada
Pensada e descrita
Doce néctar
Quero gozar nesse mel
Padecer por esse fel
Chamado poesia

CONTATO


Dorme beijando
Acorda sorrindo
Carícias, afagos
Me dominando
Deseja, seduz
Esfrega, contato
Quer namorar
Entrega no ato
Minha santa
Vaza horrores
Em graça
Aos lençóis
Se delicada
Ama selvagem
Quando fera
Mia mansa
Age firme
Muito intensa
Desliza suave
Delirium tremens
Possui deixando
Permite dominando
Crava unhas
Doces lábios
Faz cara
Faz boca
Faz gostoso
Fascinante

QUERENDO TE AMAR


Rodando na noite procurei diversão
Tomando as ruas em becos e bares
Desperta atenção, movimentação
Surge bela visão atraindo olhares
Chegando quieta, meio dispersa
Finge descontração e não sossega
Encaro o destino, fico em desatino
Sua estória, seu corpo me interessa

Se entregue a mim
Não deixe a bola cair
Vou te fazer feliz
Em você quero estar
Me dê sua mão
Fuja da solidão
Eu quero te amar
Em você quero estar

Atravessei sentimentos, larguei meu abrigo
Arrisquei posição, relaxei proteção
Querendo chegar até o lugar
Onde possa ficar colado em você
Entregue seus medos, largue indecisão
Venha cheia, inteira, suando tesão
Nos satisfaremos cobertos de vontade
Totalmente despidos de vaidade

sábado, 10 de abril de 2010

PREOCUPADO


Tenho andado preocupado com a dificuldade
Que estou sentido de chorar
Dissipou-se a razão de ter um sentimento
Foi perdido junto à fé à ilusão
Minha indignação ficou tão solitária
Escondida em minhas ruínas
Vivemos de descasos, de vexames e corrupção
Um povo todo desrespeitado
Humilhado e adoecido
Falido e que ainda ri
Cedo tá no batente
Cansado, mas contente
Dentro da realidade
Que permite a cidade
Mudando a toda hora
O rumo dessa estória
Não sabendo se
Ao lar vai retornar
É tanto pé de meia
São dois pés na jaca
Grana na cueca
È um mar de lama
Onde fundos não tem dono
E verbas ao estrangeiro
População à míngua
Seca choro, seca saliva
Esvai-se esperança
Esvai-se saúde
Esvai-se o homem
Temos visto tanta morte
Que já é normal
Sentir o corpo frio
E a alma torpe
Sem ação ou reação
Sem conseguir ir
Sem conseguir sair
Vamos nos desesperar
Ficaremos sem ar
Sem ter um lugar
Ficar sem descansar...
Deixaremos de amar
Para onde vou?

sexta-feira, 9 de abril de 2010

MAIS PRAZER


Vim para a vida, foi o meu presente
Em busca da felicidade
Crescendo nas ruas e por avenidas
Educando a minha solidão
Vivendo batalhas do dia a dia
Filosofando em botequins
Sentindo falta de companhia
Saio pra encontrar

Hoje eu quero ver a noite ferver
Hoje eu quero te ter
Hoje eu quero ver a noite ferver
Um pouco mais de prazer

Eis que encontrei, que louca emoção
A dona do meu coração
Teu céu cintilante me faz acordar
Que o show vai começar
Beijos e braços, amores e amassos
Batom, rendas e laços
Devora na cama e consome a alma
Me aquece, me acalma

segunda-feira, 5 de abril de 2010

JARDIM


Tua presença em minha vida se espalha
Tal qual flores tomando conta do seu jardim
É um misto de cores e odores, aromas
Que transcendem na própria forma
São plantas, pétalas, folhas e mais folhas
Delineadas com cetim e fitas
Sorrindo-lhe a serem descerradas
E da vida ela vazada à ti
Assim ouço, batendo alto,
Profundo e louco... teu coração.